Casal celebra 70 anos de casamento em Pelotas - Rádio Vem que Tem

Casal celebra 70 anos de casamento em Pelotas

Casal celebra 70 anos de casamento em Pelotas Alisson Assumpção/EspecialAs alianças gastas e as mãos enrrugadas de Ernesto Scaglioni, 90 anos, e Ilma, 87 anos, comprovavam o compromisso renovado neste sábado: o casal celebrou 70 anos de casamento em Pelotas. Os dois comemoraram a data ao lado dos sete filhos, 14 netos e 14 bisnetos. O almoço no restaurante na zona rural do município além de estar cheio de gente, também estava cheio de música. Uma banda tocava músicas alemãs.
— Esse tipo de canção tocava quando a gente se conheceu — lembra Ilma, remontando seus 17 anos e a primeira vez que viu o noivo em um baile: Ele me tirou para dançar, a gente se gostou e foi indo, mas naquele tempo não era que nem hoje. Os rapazes dançavam com todas as moças, hoje dançam com uma e já saem agarrando! — espanta-se.
O noivo, tímido, falava pouco e deixava a mulher responder os cumprimentos e a curiosidade do povo sobre os dois. Questionado se tinha namorada antes, Scaglioni dá um meio sorriso envergonhado e Ilma responde rápido, querendo mudar de assunto:
— Não era nada importante.
Os dois são naturais de Pelotas, da zona rural da cidade. Depois de se conhecerem, o tempo máximo que passaram distantes foi seis meses quando, dois anos depois do casamento, Scaglioni teve que servir no Exército de Passo Fundo.
— Era muito difícil, já tínhamos dois filhos e eu fiquei sozinha com eles, vivendo só do campo. E para mandar carta então? Impossível — lembra Ilma.
Onde eles moravam — e moram até hoje "e acho que vou morrer por lá, com ele, claro", acrescenta Ilma — não tinha correio. Aliás, mal tinha escola. Os dois frequentaram até o correspondente ao 5º ano do Ensino Fundamental, que era o oferecido pela escola local.
— Era uma vida bem de campo mesmo: todos filhos trabalhavam na lavoura, a gente comia o que plantava, lembro bem. A gente matava um porco por mês e fazia render, conservado na banha, porque geladeira e luz elétrica eram luxos! — conta rindo a 3ª filha mais velha, Sirlei Scaglioni Wrege, 59.
Ela mesma tem 42 anos de casada. E calcula que todos os irmãos tenham pelo menos 30 anos de casados. O segredo?
— Paciência — diz Scaglioni em uma de suas poucas palavras.
Um dos filhos, Valdir Scaglioni, 61 anos, que também fazia aniversário de casamento em abril, aproveitou a festa para renovar os votos com a mulher Elda Pegorara Scaglioni, 55. Ao lado dos pais, celebrava 35 anos de casado:
— E estamos indo rumo aos 70! — brindava, contente.
A cerimônia religiosa dos dois casais ocorreu simultaneamente no começo da manhã de sábado, com direito a netas de olhos claros e cabelo cor de sol vestidas de aias. Depois, o almoço com sopa, galeto e outros quitutes foi servido para cerca de 100 pessoas.
— Trinta e cinco anos é bodas de coral. E 70 é bodas de jubileu de brilhante, ou bodas de vinho. Isso porque antigamente, quando não tinha conservante no vinho, se dizia que quanto mais velho o vinho, melhor. E é o mesmo com o matrimônio — explicou o pastor Jorge Antônio Signorini.
Ele disse que a família sempre foi religiosa e comparece nos cultos, que ocorrem no segundo domingo do mês.
— A dona Ilma tem esse caráter administrativo. Faz parte de uma ordem de senhoras que organiza eventos beneficentes, coloca a mão na massa mesmo. Sempre foi assim: na lavoura dizia o que cada um tinha que fazer, organizava a casa inteirinha — recorda o religioso.
Depois do culto, os convidados pediram um beijo. Eles se olharam e deram uma bitoquinha rápida, envergonhada. Quando o fotógrafo pediu bis, ela respondeu:
— Mas outro? No mesmo dia? — abismou-se ela, acostumada com a sensação de eternidade de 70 anos de casada, que não precisa beijar toda hora para saber de que o outro está lá.
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